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ROCK NO BRASIL
A MÚSICA INDEPENDENTE NO BRASIL
Andrea M. Vizzotto A. Lopes*
A década de 1970 consolidou o processo de expansão da indústria fonográfica no Brasil, iniciado na segunda metade da década anterior. Entre os anos de 1967 e 1980, a venda de toca-discos, aparelhos indispensáveis para a reprodução de música, cresceu 813%, ¹ beneficiando as empresas do setor, que aumentaram o seu faturamento em 1.375%, ² entre 1970 e 1976. Mesmo com a crise mundial do petróleo, que, entre 1973 e 1975, provocaria a escassez de um dos seus derivados, o vinil, matéria-prima básica para a confecção do LP ( long-play ), o Brasil viria a alcançar a quinta posição no mercado mundial de discos, na virada de 1978 para 1979, ³ o que fazia do país um mercado atraente para as empresas desse setor.
Foi nesse período, também, que a indústria fonográfica brasileira passou a adotar uma nova mentalidade empresarial que buscava a maximização do lucro com o menor investimento, criando estratégias para controlar a imprevisibilidade do mercado de discos.
Disso resultou um alto grau de padronização, pois para obter um lucro certo, dentro de um mercado bastante imprevisível, era preciso investir em fórmulas já testadas e consagradas.
A indústria fonográfica brasileira, então, passou a usar essa estratégia de ação, restringindo a possibilidade de novos músicos entrarem para o cast de uma grande gravadora.
No final da década de 1970 e início da de 1980, havia uma manifestação artística expressiva que não encontrava espaço de divulgação na mídia e também não atraía o interesse das grandes gravadoras, as majors , que não vinham mais investindo nos novos nomes que despontavam na cena musical. Visando a furar o bloqueio estabelecido pelas gravadoras que dominavam o mercado de discos no Brasil, muitos artistas assumiram a produção independente de seus discos e várias experiências de selos independentes surgiram, gerando uma produção intensa realizada fora dos domínios das majors , que marcou a produção fonográfica do início da década de 1980.
No âmbito da criação musical, o início da década de 1980 foi marcado pela “ explosão” da produção fonográfica realizada fora das grandes gravadoras, as majors , que dominavam o mercado de discos no Brasil, e seria conhecida como “ produção independente” . Por questões estéticas ou mercadológicas, muitos artistas assumiram a produção individual e autônoma do seu próprio trabalho e várias experiências de selos independentes ( indies ) surgiram, pois havia uma atividade musical intensa que não era absorvida pelas majors . A criação desses novos selos independentes contribuiria para o estabelecimento de um novo cenário, que mudaria as relações entre artistas e gravadoras e atuaria na reestruturação da indústria fonográfica no Brasil, nos anos 90, com a conseqüente terceirização de algumas etapas do processo produtivo das empresas fonográficas.
Ao mesmo tempo, o desenvolvimento das tecnologias de gravação musical reduzia o tamanho e os custos dos equipamentos, ficando mais fácil e barato montar um estúdio de boa qualidade. Assim, tornou-se possível produzir discos com boa qualidade e custos relativamente baixos.
Embora, é bom lembrar que a mídia usada ainda era a do LP, que dependia do corte e da prensagem, controlados por poucas fábricas. Porém, ao financiar a sua própria gravação no estúdio, o músico poderia controlar o processo de criação com total liberdade, e essa foi uma das principais conquistas trazidas pelo desenvolvimento dessa tecnologia.
Para esse artista, que assumia uma atitude de contestação ao cenário imposto pelas grandes gravadoras, existia, também, um público ávido por músicas que não contivessem as mesmas fórmulas, já desgastadas pelo uso. Esse público, em geral jovem, se identificava “com produtos que, se não eram novidades ao menos partiam de referenciais distintos do que era consagrado pelo mercado” 4 .
Ao produzir o seu próprio disco, o músico tem a total liberdade de criação e pode se dedicar a uma música com propostas estéticas diferentes e, algumas vezes, inovadoras, ocupando uma lacuna deixada pelas grandes gravadoras que resistiam em lançar novos artistas, ainda desconhecidos.
As inovações estéticas concebidas por esses artistas trouxeram renovação ao cenário musical da época, marcado por uma forte padronização estética, além de colocar em discussão as estratégias de atuação das grandes gravadoras, detentoras dos meios de produção fonográfica.
Se esse rótulo e sua postura independente, na sua concepção estética e na produção de discos, impediram que se alcançasse sucesso comercial e se atingisse um público maior, também funcionaram para atrair o interesse de um público e de setores da mídia, insatisfeitos com a padronização e a falta de idéias criativas e renovadoras.
Assim, os selos e as produções independentes trariam diversidade e inovação estética à cena musical ao investirem em propostas musicais que não eram absorvidas pelas majors , ou seja, que não encontravam espaços de divulgação nas grandes gravadoras.
Usando da liberdade de criação que a produção independente de música permitia, esses artistas puderam elaborar novas pesquisas musicais, afastando-se da pasteurização sonora predominante na cena musical da década de 1980. Além da produção independente, esses artistas possuíam em comum, também, o mesmo desejo consciente de realizar um trabalho musical diferente daquele que estava sendo lançado no mercado pelas majors e veiculado pela mídia. Dessa maneira, acabaram por promover, também, um questionamento dos padrões estéticos e das estratégias de atuação da indústria musical da época.
(Texto extraído livremente do artigo “A MÚSICA INDEPENDENTE E A VANGUARDA PAULISTA”, apresentado no III Fórum de Pesquisa Científica em Arte, EMBAP , Curitiba, 2005.)
* Especialista em MPB pela Faculdade de Artes do Paraná, cantora e professora de Canto Popular e História da Música Popular Brasileira. E-mail para contato: aloandrea@yahoo.com.br.
¹ :Fonte: ABINEE. Apud: ORTIZ, Renato, “A Moderna Tradição Brasileira”, São Paulo:Brasiliense,2001.p.127.
² :Fonte: “Disco em São Paulo”. Apud: ORTIZ.Op.cit.,p.127.
³ :DIAS, Márcia Tosta.”Os Donos da Voz: indústria fonográfica brasileira e mundialização da cultura”.São Paulo: Boitempo,2000, p.54.
4 :DIAS. Op.cit, p.137.
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